O primeiro vínculo como base para os relacionamentos futuros
Atualizado: 26 de abr. de 2020

Nós estamos o tempo todo nos relacionando; com nossos familiares, amigos, conhecidos, com o trabalho e os colegas de trabalho, com nós mesmos, com o lugar em que vivemos e os lugares que visitamos... Inevitavelmente, estamos o tempo todo nos relacionando. Mas, infelizmente, nem sempre esses relacionamentos são prazerosos ou saudáveis. Muitas vezes os vínculos são frágeis.
A forma como nos relacionamos segue um padrão de reprodução das nossas vivências. Nossas relações são fortemente influenciadas pelo primeiro vínculo da nossa existência, a relação com a nossa mãe/ cuidadora.
Certamente, a qualidade dos vínculos construídos na primeira infância, principalmente com a figura materna, são fatores quase que determinantes para construção de um psiquismo saudável. São bases sobre as quais serão construídos os relacionamentos futuros; com o outro, com o mundo que nos cerca e, com nós mesmos. Portanto, influencia significativamente a saúde mental e emocional de um ser humano.
Podemos dizer que um vínculo saudável germina nas relações afetuosas e se consolida quando os afetos encontram equilíbrio, apesar das ambivalências e ambiguidades, inerentes à condição humana. A mãe/cuidadora deve ser suficientemente sensível, tolerar a ansiedade, ser acessível, fornecer segurança e conceder independência; para que a criança possa se reconhecer e se desenvolver para além da figura materna.
É nessa condição primaria, que buscamos, pela primeira vez, validação no olhar do outro. Quando encontramos, conseguimos nos reconhecer e reivindicar nosso lugar. O mundo nos é traduzido, possibilitando-nos, assim, a construção da nossa subjetividade. Passamos a ser, e sendo, podemos reconhecer o outro; recurso psíquico fundamental para a construção de um vínculo saudável. Quando existe um comprometimento do vínculo, essa relação é permeada por escassez ou excessos de afetos e cuidados. Nesse caso, crescemos com sequelas que aparecem em cada nova relação.
É possível perceber que os adultos que não tiveram as condições adequadas na primeira infância, que o vínculo primário não existiu ou não foi satisfatório, tendem a ser mais vulneráveis psiquicamente (emocionalmente), têm problemas com a autoimagem/autoestima, dificuldade de estabelecer ou manter relações saudáveis, costumam ter uma percepção equivocada do outro, etc.
Apesar de sermos herdeiros desse vínculo primário, é possível mudar esse padrão de repetição. Para a psicanálise, é preciso mais que repetir, é preciso recordar e elaborar as vivências traumáticas e, então, poderemos ressignifica-las, e poderemos construir novas vivências preenchidas por vínculos mais saudáveis.