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Sobre cortes e cicatrizes

Não há existência que não passe pelas vias do trauma. Viver é traumático.

Nascer, crescer, envelhecer... aprender a ser, aprender também a não ser. Coisas que só são possíveis através do outro. É um outro que nos apresenta o mundo e ao mundo, e a nós. Que nos convoca a dançar no ritmo dos afetos que, nem sempre são prazerosos. Uma coreografia que exige que se aprenda a dançar só, e com o outro.

Tudo isso faz cortes na alma. Algumas dessas feridas são superficiais e nos livramos delas com o tempo – porque temos essa capacidade quase magica, de se refazer, plasticidade psíquica – mas, por mais vezes do que estamos dispostos a suportar, as feridas são profundas e difíceis de curar. Elas se instalam e ficam por tanto tempo que nos apegamos a elas, e a dor vira uma velha amiga. Não boa amiga, mas amiga.

As vivências traumáticas não elaboradas se repetem de incontáveis maneiras e dificilmente cessarão sem terapia. Lembro que por muito tempo meu analista repetiu a frase “é preciso devolver ao outro o que é do outro” parece simples, mas, não foi fácil entender o que isso tinha a ver comigo. E de repente, é isso!

Eu finalmente entendi que alguns ressentimentos não me pertencem. Alguns amores também não. Percebi que eu precisava elaborar alguns lutos que me acompanham desde a infância. Das vezes que fui abandonada e das vezes que abandonei porque um dia fui abandonada. Devolvi aos que amei e aos que me amaram os afetos que não eram meus, para então, perceber e dialogar com os afetos que são meus.

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